24 de mai. de 2012

Toda uma vida...


Tudo começou quando ela era pequena, indefesa e insegura, não tinha seus protetores, seus pais haviam partido cedo para uma viagem sem volta, desde cedo fora jogada a própria sorte aprendendo na luta pela sobrevivência que a vida não lhe seria fácil, mas mesmo assim, não deixou a peteca cair e resolveu enfrentar, porque é como ela sempre diz "quem fica parado, vê a vida passar, não faz nada para acontecer, morre estando sobre as próprias pernas".
Então, passou por várias casas de tios e ali começava sua história dessa heroina da vida real, que sem super poderes mais apenas com dois vestidos e um par de sapatos (que usava em dia de missa) travava suas batalhas pelos campos do Sul das Minas Gerais, pisando com pé firme na terra vermelha, buscava e vendia leite, vendia imagens de santo, verduras da horta de uma tia e até vidros usados em produtos quimicos chegou a vender para que pudesse comer um doce, ja que seus tutores negavam esse direito a ela.
Um belo dia estava a caminhar e a brincar com uma prima que lhe fez um desaforo, e, como nunca foi de deixar por menos abaixou-se pegou uma pedra e lançou contra aquela que lhe ofendera partindo o supercilho, dias depois uma tia e sua irmã mais velha decidem interná-la num colégio para órfãos, onde aí aprenderia tocar órgão e a falar francês, assim como aprender a duras penas as diretrizes que levaria por toda a vida, assim como, algumas mágoas e rancores que se tornaram marcas por um longo tempo de sua vida e só se dissipou após um tratamento psicológico na idade adulta.
Aos dez anos outro divisor de águas acontece em sua vida, após uma traquinagem é expulsa do colégio por agredir a Madre Superiora com uma "mamãozada" na cabeça, em retaliação a politica de repressão que sofrera apenas por ser uma criança com energia (para não ter que dizer arteira - risos), mais uma vez a tia e a irmã mais velha entram em ação e a enviam para a casa do ultimo tio antes de migrar para São Paulo onde sua história com certeza iria mudar.
Nesta ocasião a menina de forte personalidade faz amizade com outra parente que estava de casamento marcado com um rapaz ao qual era tido por bocó, era de uma familia abastada e certamente resolveria a situação econômica de uma familia que antes foi rica e que delapidou a fortuna devido a má administração dos herdeiros, que de fazendeiros importantes passaram a sitiantes remediados, como o matrimônio não era de interesse da "tia-prima" a pequena travessa junto de sua irmã caçula tramam um plano para salvar a vida e a felicidade da noiva, e numa das noites em que o rapaz (que diga-se de passagem era muito católico e crédulo do folclore) resolvem fazer a imagem do "diabo" pegando um espantalho e ocando e formando num vespeiro vazio a cabeça do tinhoso e tendo colocado brasa parecia mesmo os olhos e a boca do capiroto (risos e mais risos) o rapaz vinha a cavalo e quando se deparou com a coisa do "outro mundo" passou a gritar pedindo que lhe acudissem, levaram-no para a casa grande e ao findar da madrugada já sabiam quem havia feito tal arte e sua irmã mais velha é comunicada e a mesma vai buscá-la para então partir para a terra da garoa.
Chegando em São Paulo, fora morar numa casa com todos os seus irmãos, estudava e cuidava da casa limpando e cozinhando, com direito a agressões de cada um deles, até que atingiu idade e começou a trabalhar, trabalhou como arrematadeira, como operária numa fabrica de ceras e também numa fábrica de chupetas, trabalhava e entregava seus rendimentos na mão daquela irmã mais velha que administrava a casa e comprava seu enxoval para casar com o que sobrava do que tirava dos irmãos.
A irmã enfim casara, mas os desmandos não cessaram e ela de saco cheio começa a pensar em sair de casa, naquele tempo só se saia de casa "casando" conhece seu primeiro marido e com 17 anos sai da opressão, mudando radicalmente sua históriia, afinal ele um jovem japonês tintureiro filho de uma familia recem chegada do japão no pós II Grande Guerra, ela uma mineira guerreira de sangue nos olhos, imaginem o choque cultural, na casa ninguém falava português, apenas seus cunhados que bem ou mal lhe acolheram, enquanto o marido se divertia com o seu vicio em jogos e na maioria das vezes não trazia nada pra casa, pois era mais velho e além das mesas de carteado, dominó e bilhar, ainda tinha que auxiliar no sustento de seus pais e irmãos mais novos, a jovem se revolta e vê que precisa por um fim em mais uma etapa de sua vida, mas como se agora tinha 19 anos e tinha duas filhas pra criar? A saida foi o desquite.
Ser uma mulher desquitada nos idos dos anos 1960/1970, conferia a mulher um status perjorativo de "mulher largada", "mulher de vida fácil", mas nem por isso se deixou abater, tinha formação era técnica em contabilidade, mas, por ironia do destino (pois sua irmã do meio que era auxiliar de enfermagem, vendo a sua dificuldade resolveu lhe ajudar) parou dentro de um hospital começando como atendente de enfermagem, auxiliando na amamentação de bebês internados na ala da pediatria, com o passar do tempo viu que isso era mesmo sua vocação, se tornando com o tempo auxiliar de enfermagem, e, mais tarde sagrando-se técnica de enfermagem e encarregada de andar do hospital Sirio-Libanês, onde ali ficaria por um bom tempo se tornando uma profissional de respeito.
Os anos se passaram e ela então conhece seu segundo marido, a agora mulher com 30 anos realiza o sonho da casa própria comprando seu primeiro apartamento, foram tempos dificeis, segurar gastos, trabalhar em dois empregos, e a vida lhe prepara uma grata surpresa, estava gravida aos 36 anos de seu terceiro filho, dessa vez um menino para alegrar a casa, uma gravidez de risco e complicação, repouso e tratamento e com oito meses nasce a criança que devido a um tumor no rim e a anoxia no parto fica na UTI por 3 meses e os médicos descartam a possibilidade de vida do bebê, que após promessa e muitas rezas de amigos e familiares de todos os credos, sai do hospital no colo da mãe, um ano e meio após a saida alegre do hospital ela viria descobrir que o filho ficara com uma sequela no braço esquerdo em virtude das complicações do parto, mesmo assim assumiu com amor a missão de criar um filho especial, enfrentando o que tivesse de enfrentar, chegando a dizer que a felicidade dele seria a dela.
Apoiando o filho em seu desenvolvimento, passou a receber criticas e rejeições do marido, sendo agredida verbalmente e fisicamente, além de ter sido traída em algumas ocasiões, afinal o homem queria que o seu pequeno fizesse aquilo que não conseguiu fazer, ser militar das forças armadas, ele por um certo desgosto não deixava a criança se divertir, dominava todos os brinquedos do como as bolinhas de gude, as pipas, os peões, e a mãe para compensar enchia a criança de amor e de carinho fazendo o impossivel para suprir a presença do pai, quando o filho atinge os 12 anos, o relacionamento chega num ponto insustentavel ao ponto dela e da criança quase serem mortos por espancamento, e ela então decide separar-se novamente.
Nova fase, com sua filha mais velha casada e ja com 2 netos (há 10 anos) sua filha do meio residindo no Japão ( há 7 anos) começa a ensinar o que é a vida pro filho, passando a curtir passeios pela cidade que lhe acolhera na juventude, mostrando como se fazia para andar na rua, além disso viagens para a praia, para Minas Gerais, almoços e jantares especiais, tudo aquilo que era tolhido quando estava ao lado de seu ex-marido passaram a fazer, deixando a alegria fluir em suas vidas.
Mas com o tempo a vida lhe trouxe tristeza, seus irmãos foram morrendo, um de cancer que cuidara desde o diagnostico até a morte, uma de derrame fulminante e aquela que sempre foi sua parceira, sua irmã caçula definhando, vendo ela ter uma serie de derrames e uma amputação na perna o que levou a depressão, mais derrames e então a morte, a guerreira então chorou e entrou em depressão, necessitando de tratamento para apagar a dor cravada em seu peito, com sucesso ela limpa seu coração de todo o sofrimento e resolve dar um novo passo na sua vida junto com o filho, vai de volta às origens morar em Minas Gerais.
Lá chegando é recebida pela irmã mais velha e pelas primas que logo tratam de escolher uma casa para morar com o filho, o filho presta vestibular para uma faculdade publica e passa, comemora com satisfação a conquista do menino que agora homem tem de escrever a própria história, ele namora fica noivo e termina o noivado e ela ao ver que a empreitada nas alterosas não dera certo resolve retornar a capital da fumaça (risos), voltando tem alguns problemas de saude, um enfarto e tempo depois uma fratura de femur e bacia que foi presenteada com uma bengala e nem mesmo assim perde a fibra de viver, continua firme na batalha com seus 65 anos essa mulher que é exemplo de vida continua sendo exemplo de vida seguindo em frente com toda a vida que ela tem pra viver, e, se seguir o ultimo tio dela que estava vivo até ano passado ficará viva até os 200 anos (risos).

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