26 de abr. de 2012

Velho Joaquim

O velho Joaquim era um senhor de quase 90 anos que morreu vivendo a vida, trabalhou apenas 1 mes e 15 dias em toda sua existência e sempre tinha um causo pra contar, viveu parte da sua juventude a cantar nas folias de reis e nas congadas pelo sul de minas a fora, seu jeito tranquilo se traduzia na picada do fumo e no feitio de seu cigarro de palha que demorava uma ou duas horas até ficar perfeito, adorava seus gatos sua horta no fundo do quintal e às vezes tomava sua purinha para não passar mal.
Certa vez este velho me contara sua maior aventura: viera a São Paulo com a finalidade de pegar no batente, deixou para trás sua amada Hilda e se embrenhou nas obras da velha estrada de Santos, como bom mineiro ficava a prosear e a distrair a turma de peões e trabalhar que é bom nada, até que numa noite ouviu um barulho e os medrosos dos colegas pensando que fossem uma das feras da mata Atlântica elegeram ele para ver do que se tratava, ao voltar, voltou-se rindo dizendo que não passava de um gatinho que estava a procura de algo para se comer, seus bobos disse é uma jaguatirica e como estava acostumado, para ele não passava de um gatinho.
Esse velho passou a vida a sorrir e seus olhos azuis a brilhar, contando suas histórias como se fossem fábulas, mas que eram na verdade sua história de vida e era encantador vê-lo contar com sua voz embargada de saudade, aos goles de café preto e pedaços de queijo fresco as coisas da boa vida que viveu na juventude.
Uma outra história que me recordo como se me falasse ao ouvido foi quando ele e Ana foram tocar numa folia de reis, irmãos e parceiros inseparáveis de folias, ele e a bela irmã entraram em disparada à cavalo numa dessas cidades tradicionais de minas e os botões da blusa dela se abriram deixando os seios à mostra, as mulheres virtuosas e de bons costumes começaram a fechar portas e janelas para que seus ilustres maridos e filhos não vissem a desavergonhada que chegara há pouco na cidade e os dois se riam e se divertiam a valer. Tanta diversão e farra lhe custou o matrimônio mais 10 anos depois sua amada o perdoara e viveram juntos até os ultimos dias de minha vida.
Esses causos que vos conto fizeram parte da minha infância, adolescência e inicio da idade adulta, nas minhas idas e vindas de São Paulo a Minas nas férias e durante minha permanência por 6 anos lá, seis anos que convivi com estes amados personagens que tenho orgulho de dizer que são sangue do meu sangue e que neles tenho raiz. Ao meu velho Tio Joaquim, Tia Hilda (sua esposa ainda viva) e Tia Donana (Ana), a homenagem deste sobrinho neto que lhes ama, em breve mais causos!

2 comentários:

  1. Bem, como sabes, adoro causos, e "Minas" e "Causos" são sinônimos. Viajei imaginando a cena das portas se fechando frente ao "peito aberto" de sua tia, e as gargalhadas do velho Joaquim.

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    1. Melhor era ver o brilho de vida e quando os olhos do velho se marejavam é era demais

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