16 de nov. de 2012

Diante do espelho...

Eis que o guerreiro ao partir de seu reino renunciou ao votos feitos à armada, se transformando num monge andante que levou de reino em reino os seus ensinamentos, e, buscou com estes povos novos conhecimentos, aprimorando seus conceitos e formulações. Porém, a cada viagem ficava a refletir sobre a vida e suas condições, sentia que algo lhe faltava e lembranças vieram à tona, tempos bons, que, agora acredita não mais voltar. Mas sempre com seu gosto pela contestação não aceita a realidade e vai ao resgate de sua outra parte da sua essência, do seu EU, já que metade das suas dores já haviam sido curadas, seu desejo era curar mais esta.
 
Numa dessas viagens apontou um acampamento cigano e a beira da estrada encontrou com uma bela moça que estava carregando um cesto, num gesto nobre, ofereceu sua garupa a donzela e a levou até lá, ela era a princesa daquele povo e o conhecia de outros tempos, mas ele parecia não recordar de nada, havia se tornado um homem inconstante, superficial, rebelde, irritado e rabugento, muito diferente de quando se encontraram.
 
Ao chegar ao centro da aldeia o chefe do clã o recebeu, mas, não se reconheceram, pois o monge estava transfigurado, sua aparência em nada lembrava o principe guerreiro com quem conviveu um dia, ao se cumprimentarem sentiu uma energia densa vinda do monge e ofereceu sua tenda para que pudessem conversar.
 
Entrando na tenda, o velho homem perguntou o que havia acontecido com o monge, que logo lhe contou toda sua história: as batalhas que lutou, as dores que sofreu, as decepções que o atingira, que o fizeram perder pouco a pouco as caracteristicas que lhe eram tão marcantes, que antes atraia pessoas e hoje as afastava. A linda cigana entrou na tenda e colocou diante dele um espelho dourado que ele mesmo havia dado a ela, pegou suas cartas, serviu um pouco de vinho e lhe disse: O que vês diante do espelho? Ele então respondeu: Metade de um homem! Ela disse: eu não vejo assim... vejo um homem preso aos sofrimentos passados, que esqueceu das alegrias e por isso vive levantando a espada contra si mesmo, deixe disso, mire-se para frente e lance-se ao seu futuro que vejo nas cartas ser glorioso!
 
O monge então tomou o copo de vinho que parecia conter umas ervas que conferia a bebida um sabor muito bom, entorpecido ele olha para o espelho e não vê mais o seu reflexo, mas o seu passado, as coisas boas, as festas, a alegria, as piadas, os risos, a musica, de repente o passado de amargura foi apagado de sua mente, uma voz dizia suave e docemente, deixe no vazio desse copo o seu duro passado, e deixe para seu presente as lembranças doces que essa bebida te trouxe, volte a viver a mágica e a felicidade que é a dádiva de estar vivo!
 
Ele então adormeceu, e a cigana o envolveu em seus braços acolhendo-o, na manhã seguinte ao acordar, como mágica voltou a ser o homem que ela conheceu nas visitas que fez  para ele em seu castelo, em seu semblante estava estampado o otimismo, a simpatia, a vivacidade e a exuberância, e nas mãos havia uma rosa que colocou para adornar os cabelos e o rosto da linda princesa, demonstrando que sua rispidez havia mesmo cessado, assumindo novamente sua sensibilidade, estava bem vestido e perfumado. Ela então o abraçou e o beijou, e juntos foram se encontrar com o chefe do clã.
 
Ao se aproximarem todos sorriram e o velho começou a entoar um canto cigano, logo os musicos se rodearam, acendeu-se uma fogueira e então começava a festa, no centro da roda o casal trocavam olhares, e então o monge se retirou foi a beira da fogueira conversar com o homem, disse-lhe que tinha ainda uma viagem a ser feita, mas que depois dela, voltaria ao clã para se casar e se tornar membro da Aldeia, feliz o velho concordou e lhe desejou uma boa viagem...
 
Voltando ao centro da roda beijou sua amada e se despediu lhe prometendo que voltava para ficar ao seu lado, ela então sorriu lhe deu um lenço com seu perfume para que nunca esquecesse seu cheiro e disse que o esperava para viver ao seu lado a felicidade que tanto sonhava.

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