Um monge que viveu no século XIII pôs-se a pensar certo dia se, existindo para todo sempre a eternidade, o tempo não começaria a se arrastar, depois de certo periodo no céu. Com a mente continuamente presa a essa indagação deu um longo passeio pelos bosques e subitamente sentiu-se fascinado pelo canto de um pássaro. Era um canto que jamais havia ouvido e, sem duvida o mais encantador que até então conhecera.
Enquanto ouvia o canto, caiu em extase e quando voltou ao seu mundo cotidiano retornou ao mosteiro e verificou que cem anos haviam passado! Todos os seus amigos já haviam partido. Seu nome ainda estava na lista de monges reclusos, porém havia uma anotação, em frente ao seu nome, dizendo que ele havia penetrado na floresta, certo dia, e jamais retornado.
Esta história ilustra a relatividade do tempo, determinado pela nossa percepção daquilo que denominamos de sua passagem. Essa percepção vai ser rapida ou vagarosa, dependendo de quanto estamos absorvidos pelas tarefas que executamos. Quando estamos completamente absortos em uma experiência, a vida parece se tornar eterna; perdemos completamente a noção do tempo e temos a impressão de que ele "voou" rapidamente. Em contrapartida, quando estamos ansiosos pelo resultado de algum evento, o tempo estende-se vagarosamente e o momento esperado parece nunca chegar.
Assunto de filósofos, místicos e cientistas, o conceito do tempo é muito abrangente e com inúmeras possibilidades que dependem do ponto de vista e do enfoque em que está inserido. Na prática, temos 24 horas por dia para utilizarmos da forma mais adequada possível, dentro das nossas prioridades e possibilidades objetivando uma vida plena de realizações. Tomar consciência de como utilizamos o tempo é um ponto importante daquilo que se chama domínio da vida. A valorização do tempo abrange a valorização de todos os aspectos de nossa existência tornando-a harmoniosa e integrada, na medida em que obtemos maior autoconhecimento e passamos a planejar nossas ações com critério e discernimento. Isto significa conciliar as atividades profissionais com as intelectuais, culturais e de lazer, dando também a devida importância aos anseios de realização pessoal.
Em plena era do conhecimento e já no século XXI, a antiga afirmação de que ter tempo é uma questão de opção continua válida. Nossas queixas de falta de tempo são devidas, quase sempre à falta de planejamento e ao disperdício causado por fatores como o adiamento, a preocupação a dificuldade em dizer não e de delegar trabalhos. A definição de prioridades, o estabelecimento de metas, o planejamento e a organização das atividades, por outro lado, nos ajudam a utilizar as horas de nosso dia de forma tranquila, sem preocupação ou ansiedade.
Devemos estabelecer um plano diário, contemplando os compromissos profissionais, atividades sociais e culturais e momentos para o cultivo do espírito. É importante também cultivar o hábito de observar a nós mesmos na execução de nossos atos, tomando consciência daquilo que estamos fazendo em cada momento, fugindo do automatismo característico da nossa época.
Ao final do dia devemos fazer um balanço do que foi concluído e um breve planejamento do dia seguinte. Esse balanço traz consigo um benefício extra, pois exige dedicação ao autoconhecimento. Ao avaliar os resultados de cada dia, passamos obrigatóriamente a avaliar nossas motivações mais profundas ao executarmos as atividades planejadas. Nenhuma receita de administração do tempo irá funcionar se não houver essa disposição interna de avaliar as razões porque fizemos uma coisa de determinada forma, porque reagimos de um certo jeitoante a uma circunstância específica e até porque deixamos de fazer alguma coisa. É na medida que vivenciamos cada momento, que nos observamos enquanto agimos, que efetivamente acumulamos experência e evoluimos. Essas avaliações funcionam como a auto-observação necessária para o aperfeiçoamento pessoal e a melhoria da própria conduta, dentro de novos parametros. Através da revisão do nosso comportamento frente aos desafios diários vamos evoluindo e nos tornando melhores.
Seguir o justo e bom caminho do meio é também sábio com relação à organização do tempo. Devemos tomar o cuidado de não passar para o outro extremo de ter uma vida excessivamente organizada, tão destrutiva quanto a total falta de planejamento, pois tira grande parte da alegria de viver, leva à excessiva preocupação com horários e gera sentimentos de culpa. É importante também, ter momentos sem nenhum compromisso. Momentos de ociosidade de despreocupação podem ser preciosos e relaxantes. É possível que através da introspecção tenhamos a subita clareza e inspiração sobre algo que nos incomoda, ou que a nossa apreciação da beleza do momento presente se torne tão intensa que a sua recordação perdure como uma das mais valiosas experiências.
Não é o tempo que passa, somos nós que passamos. Os relógios marcam a nossa passagem dentro do tempo, onde temos nossas próprias vivências e experiências. Através da nossa compreensão consciente, o tempo se torna aquilo que percebemos. E também com relação a ele nos deparamos com o poder de escolha. A forma como utilizamos o tempo é um reflexo das nossas prioridades. Dedicamos mais tempo àquilo que consideramos ser importante e tendemos a esquecer do que não damos muito valor. Se não estamos encontrando tempo para a cultura do espírito, para momentos com a familia e outras pequenas coisas que dão tempero à vida, talvez estejamos precisando refletir sobre o que estamos valorizando.
Finalmente, nunca esqueçamos que o unico tempo sobre o qual temos algum poder é o momento presente. O agora é o unico tempo que podemos utilizar, é o unico tempo que vivemos. É ele o instrumento com o qual podemos criar um futuro melhor e aprender as lições do passado. O momento presente é o nosso grande aliado, é um recurso que possuímos para usar em nosso favor. É nele que podemos agir positivamente redimensionando nossas ações e modificando o curso de nossa história pessoal. Vamos encontrar então tempo para o Deus de nosso coração, para conversar com nossa familia e amigos, para refletir e meditar, tomando uma atitude séria e positiva rumo à mudança e o retorno a uma vida plena.
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